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depois de três semanas de espera pelo resultado de um exame que pode dizer a uma pessoa
"tens cancro, o teu corpo está a matar-te numa revolta contra ti"
uma voz profissional, sem calor, sem tom, sem qualquer réstia de compaixão pelo outro, sem qualquer capacidade de se colocar na pessoa a quem se diz o que se diz avança
amanhã, sábado, apareça na urgência que o senhor doutor tem os resultados"
ignorando os prantos aflitivos de quem, do outro lado, olha para o corpo que poderá estar ou não a morrer, para o corpo que poderá revoltar-se numa guerra de químicos e dores e não avança resposta a nenhuma das perguntas.
com voz fria, profissional, usando dos obrigados, dos por favores e dos licenças. faltou apenas desejar um bom fim de semana, na constatação a tempo do ridículo incomensurável que seria.
ignorando, propositadamente, o que a frase "apareça amanhã, sábado, para saber o destino do seu corpo" provoca na pessoa que o ouve.
a capacidade "profissional" do ser humano conseguir ignorar a ansiedade da dor do outro mata-me.