Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
minha cara eu futura:
visto que casaste e desde esse dia a tua mãe, sogra, cunhada, conhecidas, avó, prima e até senhoria insistiam em perguntar para quando o aluguer do útero;
visto que o teu marido sempre quis ser pai;
visto que sem experimentares não sabias se gostavas;
visto que a tua própria mãe está na flor da idade e pode ser ela uma excelente mãe-avó caso decidas atirar-te de uma ponte, era lógico que entrasses nesse estado de graça que é a prenhice.
pois bem escrevo para ti enquanto grávida.
conta-me cá: esses pés inchados? e essas mamas do tamanho da pamela anderson inteira? e essa bexiga em constante actualização? tudo bem? pois esquece isso. não é sobre esse ar radioso que sai de ti, ao género de um poste de iluminação numa noite de inverno, que quero falar.
não minha cara. o que me traz aqui hoje é lembrar-te das regras, das máximas que deves seguir agora que as tuas hormonas comandam a tua racionalidade e não vês mais nada do que humanos pequenos, fraldas castanhas, gel para estrias e curas para mamites.
por favor, lê esta carta antes de te tornares insuportável e me fazeres corar de vergonha: não quero corar de vergonha agora pelas parvoíces que fazes aí nesse tempo.
posto isto:
* não colocarás no facebook as regras de visita da criança quando nascer: se ainda tiveres alguém que te queira visitar - que duvido - assim como a pessoa que expeliste, vais ficar muito agradecida, deixar que peguem nela ao colo (de preferência ficarás feliz caso a queiram levar e possas ficar outra vez como deve ser: sozinha a ver um filme com um copo de vinho na mão) ou a adormeçam (mas não contes com essa sorte).
* não pesquisarás doenças que as vacinas podem provocar na tua cria e verás com prazer a dita apanhá-las: as vacinas são coisas boas e mais vale a choradeira agora do que acabares a pedir dinheiro no gouchinha para tratar de uma doença que a criatura apanhou e ninguém sabe de onde nem porquê.
* não estudarás com a catraia quando ela estiver nessa idade. é tua obrigação explicares que deve fazê-lo mas não tens agora de ir ler o nody vai à missa porque a educadora de infância mandou. é tua função que deixes a criancinha passar pelos erros das suas escolhas, aprendendo com eles.
* não darás presentes pelo facto de a criança ter sido a melhor da turma. como bem sabes mais não é que a obrigação dela estudar visto que tu terás de abdicar de muita coisinha (imaginas as viagens que vais deixar de fazer?) para lhe dar uma boa educação. esforçar-se faz parte das suas responsabilidades.
* não a obrigarás a comer. a não ser que fique totalmente desnutrida, quando tiver fome come. nunca ninguém obrigou uma criancinha de áfrica a comer e elas querem todas ingerir qualquer coisita.
* não dormirás com a cria na tua cama: antes do crianço aparecer tu já dormias sozinha com o teu marido e se assim era... por algum motivo se justificava. além disso, os pesadelos fazem parte da vida.
* nunca, jamais, dirás que antes da criança nascer não sabias o que era o amor: se fizeres isso és uma grandessíssima hipócrita e ingrata e não me parece que queiras tal rótulo.
* nunca competirás com outras mães devido às capacidades do teu filho: fazer isso é transformares-te numa idiota chapada. e olha que já és uma parva de merda acima do normal.
* não permitirás que a tua cria faça uma birra num espaço público, fazendo-lhe a vontade apenas para o calar. se ainda tiveres as duas mãos ao fundo dos braços é tua obrigação lembrar-te que mão na cara produz um som inesquecível capaz de resolver noventa por cento de faltas de educação.
* não olharás para esta carta escandalizada com tanta asneira: afinal percebes agora que, não sendo ainda mãe, a M.J. que te escreve não sabe nada do que diz e é bem capaz de engolir palavrinha por palavrinha.
excepto talvez aquela coisa da birra.
aguenta-te firme, óbiste?
e vê lá se dás uso ao seguro de saúde para a cesariana que isto de cenários medievais não está com nada.
(a não ser que, evidentemente, tenhas mudado de ideias e aches que escarrapachar-te que nem um frango a gritar de dor é uma coisa menita e de louvar).