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os prédios formam um bairro atarracado, velho, desleixado e enxovalhado. as cores são mortiças e secas. não há jardins. espalha-se o chão de uma cor amarelada onde outrora houve relva. só se pode imaginar o que foi caminhando por entre os passeios repletos de carros.
ao sol do meio dia os espaços sem carros, alcatrão ou prédios, a adivinhar as flores que ali viveram um dia, cheiram a cocó de cão. é um cheiro intenso de estrume que se mistura com a acidez de um mijo a que todos os cães dão a pata.
uma nojeira.
os prédios têm dez andares cada um, rodeando-se numa espécie de quadrado. há gatos vadios espalhados por eles. de manhã cedo senhoras de robe e cabelo pintado passeiam a sua animalada, deserta de prados e serras, em trelas apertadas.
os canitos olham o chão desolado repleto de cagalhões de amigos de outras horas.
no quente da tarde toda aquela bosta se transforma numa corte da serra, sem palha, só merda incontável espalhada pelos jardins que foram outrora.
e o pessoal passeia feliz, com ar cansado e cigarro ao canto da boca, um canil completo, sem pulgas que alivia o intestino.
antes na estrumeira colectiva que nos sofás entre quatro paredes.
nos passeios cheira a merda. vê-se merda. acumula-se merda.
não consigo sentir mais nada por tudo o que vejo, naquele bairro.