Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
li há uns tempos uma notícia, daqueles sites ranhosos cheios de pop-ups, acerca de um homem, filipino acho eu, que depois de ser assaltado subiu para um coqueiro de 20 e tal metros e ficou lá em cima durante 2 ou 3 anos.
2 ou 3 anos (não recordo com precisão) em cima de um coqueiro, alimentando-se de comida que lhe chegava por um balde atado a uma corda.
acabou por ser retirado à força com lesões no coluna, desidratado e com um prognóstico de psicose, paranóia e afins.
2 ou 3 anos em cima de um coqueiro, recusando-se a sair por medo que o voltassem a assaltar e perseguir.
não obstante o ridículo da situação isto fez-me pensar na quantidade de anos que tenho vindo a perder em função do medo.
não estou, obviamente, em cima de um coqueiro (até porque teria de ser um resistente) mas vivo, desde que me lembro, a vida a fugir de situações que me incomodam.
não resisto ao assalto:
fujo e subo para cima de um coqueiro.
e vou saltando de coqueiro em coqueiro, no medo que me assaltem e persigam naquilo que é a minha vida.
sou uma idiota chapada.
a incapacidade de enfrentar certas coisas é tanta que, largas vezes, faço tudo o que me é permitido para as não ver, não sentir, não pensar sequer.
abalroo pessoas pelo caminho, na justificação dada a mim própria de que irão aumentar o meu medo.
esqueço-me delas, finjo que não existem e continuo.
deixo de ir a lugares, perco locais.
evito.
o meu evitar é tão forte que, em determinadas situações, se eu sofresse do mesmo nível de paranóia do senhor filipino, era menina para ter na minha varanda o meu próprio coqueiro onde permaneceria empeloucada até achar que estava livre.
e nunca estaria.
nunca estarei livre do medo.
é algo inato, que se alimenta a si próprio e me faz tomar todas as decisões que tomo e se transformam, numa espécie de efeito borboleta, naquilo que é a minha vida.
a única diferença entre mim e o filipino é que ele, no sítio onde estava, podia deliciar-se com um dois côcos.
eu nem isso.
*escrevi côco, bem sei, com acento que não existe. mas não conseguia evitar pensar em cocó sem ele. e o texto já é demasiado mau mesmo sem me lembrar do cheiro.