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acordei às duas da manhã para mudar fralda e fazer leite.
acordei às quatro e cinquenta da manhã para mudar fralda e fazer leite.
acordei às seis menos vinte da manhã, quando mal tinha fechado os olhos, com o puto aos berros como se o estivessem a circuncidar a frio.
tirei-o do quarto que basta um de nós não dormir.
não é que ser eu a não dormir seja boa solução. ou ideia. não é segredo que a falta de sono me transtorna a pontos mais sensíveis que a maioria dos mortais. o passado é uma lembrança constante e as noites mal dormidas tiveram, há alguns anos, consequências que ainda se notam na pele. o facto de dormir mal, hoje em dia, porque tenho um puto aos gritos não é sinónimo de que seja melhor ou mais bonito do que antes. não há beleza nenhuma numa criança a fazer uso dos pulmões como um bezerro desmamado.
uma vez que estava acordada e havia o risco de ele dar uso às cordas vocais, novamente, decidi trabalhar. portanto bebi um café, comi duas bolachas ranhosas, molengas, esquecidas no armário desde antes de parir e sentei-me no pc. forço os olhos cansados e começo. praguejo mentalmente. que se lixe. quando o paizinho do puto acordar e voltar da reunião te-lo-á o resto do dia:
podem conversar os dois sobre esta ideia magnifica que foi parir.
ainda que nenhum dos dois o tenha feito.
sobra sempre para os mesmos.
dormir pouco põe-me mal humorada, rouba-me perspetiva e capacidade de analisar qualquer situação a frio e racionalmente. transformo-me na lamurienta (mais do que o normal, atenção, não que não o seja mesmo a dormir doze horas) azeda, com vontade de ir atravessar passadeiras, em horas de ponta, para atrapalhar o trânsito. tenho uma constante palavra afiada no canto da boca e era capaz de ser o pombo com que jogo xadrez quando não há lógica em discursos ou inteligência por onde se pegue.
optar por trabalhar é, portanto, uma boa ideia. limpa-me a cabeça, distrai-me o cérebro, mata-me os olhos e impede-me de desatar aos gritos - eu, que detesto gritos - pela casa, praguejando como um pedreiro e correndo o risco de traumatizar, de uma vez para sempre, um puto que ainda nem consegue focar objetos e sabe tanto que sou mãe dele como a tetina do biberão que lhe enfiei na boca há menos de uma hora.
vamos ao trabalho então. por sorte, não sou só eu! os senhores do lixo também o fazem, os padeiros, os bombeiros, os polícias, os enfermeiros, os médicos, os estudantes em noite de queima e a cristina ferreira: sou solidária convosco pessoal.
uma última nota: se gostam da vossa vidinha como é aceitem um conselho (ou concelho?): por favor não tenham filhos. sobretudo se forem mulheres: é altamente prejudicial para a vossa saúde.