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há uns tempos, creio que anos talvez, fiz parte de um grupo fit no facebook.
(quem anda por aqui há muito tempo sabe do que falo).
o grupo tinha coisas boas:
no entanto, o grupo era também pernicioso, pedante e presunçoso (achei que estes três "ps" ficavam aqui bem).
uma prova disso era o ataque gratuito à obesidade e uma das situações que o demonstra foi quando uma das meninas (éramos todas tratadas por meninas e queridas, nem malta, nem pessoal, nem tá-se, sim meninas, sim queridas) decidiu publicar uma fotografia que tirou, à cara podre, de uma senhora obesa que estava às compras.
a mulher fotografada claramente era obesa mórbida e tinha a barriga à mostra, em forma de avental, por cima de uns calções minúsculos: uma imagem feia e - houve até quem a apelidasse - repugnante.
depois alguém comentou dizendo que enfim, aquilo não era bonito. não propriamente a imagem em si, mas sim o facto de exporem uma pessoa que andava na sua vidinha às compras, num grupo com mais de 3000 pessoas para gáudio de quem lia.
a administradora veio em defesa da publicação:
pois a senhora não era gorda? pois a senhora não andava assim vestida em público? pois qual era o mal? não era só uma piada? que se deixassem de puritanismos e fizessem mais exercício.
o pessoal, perdão, as meninas continuaram no gozo e quem era contra meteu a viola no saco.
uns meses mais tarde, escrevi sobre o grupo e o texto chegou aos olhos da administradora. o texto era este e, como se vê, não é simpático.
foi na altura em que eu escrevia palavrões como afirmação e usava a escrita como arma de arremesso.
no entanto, não estava preparada para o deus me livre que provocou na administradora: pois que eu gozava com elas; que se não queria não fizesse parte do grupo; que não era bonito; que devia morrer esmagada em massa com almôndegas, das fritas; que eu devia ser a fulana que chora no quarto enquanto come batatas fritas e hambúrgueres.
uma trapalhada.
evidentemente que lhes devia ter dito que:
mas mais do que isso,devia ter-lhes dito que a hipocrisia gritante de todas fazia rir quem lesse.
o meu texto era constituído por palavras, só palavras.
não tinha as trombas de nenhuma, não identificava ninguém em concreto e não tinha as fotos das figuras que faziam enquanto andavam às compras. o texto satirizava os excessos que as pessoas cometem quando entram em fundamentalismos mas não atacava uma só pessoa apanhada desprevenida enquanto pesava um quilo de maçãs, tal como haviam feito.
já o que elas faziam era bem diferente.
e então por que não o disse?
porque me acobardei e porque, na verdade, a maior parte delas tinha tantos neurónios como as maçãs que a senhora obesa pesava enquanto vestia uns calções minúsculos.
e por que é que me lembrei disto?
por um outro post que hei-de escrever um dia destes e que me anda a queimar os dedos para ver a luz solar.
ou a luz do ecrã.
e porque a ida ao ginásio me deixa uma hora livre para divagar, sem livro, telemóvel, trabalho, séries, filmes ou converseta.
e quando dou conta estou a pensar que, caramba, se não tivesse sido expulsa do grupo, podia estar agora com a minha bff a fazer agachamentos enquanto falávamos de queijo e nos tratávamos por queridas.