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não tenho ouvido muita música.
não é que não queira mas é mais fácil não o fazer para estar alerta e ouvir o miúdo sempre que ele se manifesta.
às vezes pego uma coisa ou outra no youtube e fico a ouvir, sempre que posso, ininterruptamente. acompanho os livros, depois de jantar, com algo ouvido durante o dia. em loop.
estive muito tempo sem ler.
a paciência era pouca. quase nenhuma. as letras embrulhavam-se nas primeiras páginas e não tinha pachorra. a ter alguma coisa era sono. os livros foram-se acumulando, portanto, nas prateleiras.
também deixei de comprar. dos vinte a trinta livros que comprava ao ano passei para um num leilão online. que nunca chegou. a mulher diz que o enviou. eu duvido. para não me chatear finjo que acredito que fui burlada.
uso este truque, muito, ultimamente, para não me chatear: finjo que acredito, que não me incomodo, que não percebo. é certamente, a maneira mais fácil de chegar ao fim do dia e dormir de um sono só. aconselho vivamente.
pela falta de leitura os livros que a magda e a maria me emprestaram continuam nas prateleiras.
tenho de os devolver e é uma pena porque os queria ler mas não consigo. para lidar com as palavras que se embrulham decidi recorrer à técnica antiga de reler. só reler até ao fim do ano. tem corrido bem. reli o primo basílio e vou reler um data de livros e livritos que andam por aí, alguns lidos quando tinha 15, 16, 20 anos e que gostei.
os novos aguardam com paciência que lhes queira pegar. não é uma sangria desatada a não ser esteja para morrer.
por falar em sangrias e mortes, apesar da estadia na maternidade não ter sido o drama de cinco atos que imaginei na gravidez, também não foi propriamente a melhor coisinha que me tenha acontecido. de tal modo que sinceramente, a não ser as consultas com o miúdo no centro de saúde e pediatra, não voltei ao médico.
ou melhor, voltei para fisioterapia, que não conseguia trabalhar com um stress numa mão. mas foi quase a medo.
a ideia de ter de ficar internada, outra vez que seja, martela-me na já conhecida comichão no cérebro.
li que muitas mulheres, depois de serem mães, ganham uma espécie de hipocondria e medo de não poderem cuidar dos seus filhos. custa-me, é verdade, pensar nisso: a ideia de que não estaria cá para ele. mas contrariamente a muitas mulheres não me acho o centro da vida do miúdo. a sério. não sou. não sou a única que o consegue educar, perceber e suprir as suas necessidades: o pai dele fá-lo com a mesma eficácia, ou melhor do que eu.
daí que sim, a comichão no cérebro por voltar ao médico e fazer exames de rotina, é apenas pela ideia de que algum dia poderei ter que ficar internada, novamente, num hospital.
"esta é nova", dei-me conta há dias, quando o percebi. "é uma paranoia nova, que engraçado".
só que não é engraçado. a simples possibilidade de ficar presa num quarto, dependente de estranhos para tudo causa-me aquela comichão atroz no cérebro que aumenta ridiculamente se a não controlar.
>por isso encolho os ombros e finjo que não passou há que tempos a altura de marcar consulta na ginecologista; ou finjo que não percebi quando a médica me disse que tenho de fazer análises gerais incluindo à tiroide. e em dias muito chatos, quando as ideias me martelam a pontos de as não controlar, quando me assaltam em momentos onde a distração ao cérebro é impossível - como no banho ou ao adormecer - digo muito alto, ainda que em silêncio, que não volto a um hospital, não volto a ficar dependente de estranhos e antes morrer em casa. é uma nova paranoia. finjo que não dou conta.
cada um com as suas, minha filha, diz a minha avó.
e é verdade: as paranoias sem sentido - mas que consomem - são as minhas.
portanto, a modos que tenho ouvido pouca música e a que ouço é sempre a mesma, que encontro em listas no youtube que fiz há anos e que ouço, quando posso, em loop até cansar.
isso e reler.
sejamos francos: a minha vida já tem coisas novas suficientes para ainda lhe pespegar com mais novidades.