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no primeiro anúncio da mudança prometemos todos que não será isso a afastar-nos. sabemos, juramos até, que nenhum tempo do mundo, nenhum quilómetro, nenhuma ausência de espaço fará diminuir o sentimento de amizade que nos une. somos uns campeões. somos diferentes. somos melhores. nós não somos os outros.
nas primeiras semanas vamos contando novidades, dando a conhecer os dias. usamos as redes sociais, telefones. combinamos visitas. é um lá-cá constante. sabemos de antemão que permanece tudo igual.
a seguir os telefonemas, as mensagens começam a escassear. de vez em quando lembramo-nos de responder, que estamos em atraso. alinhamos duas palavras numa mensagem com sensação de dever cumprido: "então? já não falamos há algum tempo. como vais?" dizemos a nós próprios que temos de combinar um jantar. um café. "temos de combinar um jantar cá em casa, pá. ou um café. sabes como é, uma pessoa não tem grande tempo". deixamos passar os dias. depois percebemos que foram organizados jantares, conversas, cafés e não fomos convidados. organizamos cafés, conversas, jantares com outros, de agora, e não convidamos os de trás. "eh pá, estão longe, também não dá para virem cá assim, todos os dias".
percebemos que a ausência afinal consegue fazer perder o tempo e o espaço. falamos menos. quase nada. passam meses. no natal passamos em pensamento lista de pessoas. mandamos mensagem. daquelas iguais para todos. esperamos por uma no aniversário. nem notamos se ela não vier daqueles com quem juramos amizade eterna. sabemos de separações, reconciliações, recomeços pelo facebook. sabemos o que comem ao almoço ou ao jantar porque há fotos no instagram mas não temos a mínima ideia do que lhes vai na alma.
jurámos que ia ser diferente.
não é.
permanece um. ou dois.
nunca permanecem todos.
uma merda.