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conheço alguém que perdeu o namorado, num dia escuro de inverno: num avc fulminante sem que nada o fizesse prever.
assim. um segundo respiras e tens a vida pela frente, revelando saúde a quem perguntar, juventude no corpo e na alma, e no segundo seguinte estás estendido no chão, o ar a recusar a entrar, o corpo a esfriar, o sangue parado: o nada.
não falando na tragédia em si e nos dias (anos) que esta minha conhecida vivenciou no após, gostaria apenas de partilhar convosco uma coisa que me contou, há uns tempos, quando casualmente nos encontrámos e a conversa rolou para o assunto (é melhor matar o elefante na sala de uma vez só):
pior do que aqueles que se afastaram na incapacidade de lidar com a minha dor, foram os carpidores da vida que me procuraram para ver na minha dor uma maior do que a deles.
sem tirar nem pôr.
é que no dia a seguir a minha colega recebeu dezenas de mensagens e pedidos no facebook de pessoas que não conhecia: numa pesquisa de faro de desgraças. na procura da dor alheia para amenizar a dor própria. no constante esmiuçar de pormenores. na tentativa de saber o mais macabro do assunto. no espalhar da desgracia ao vento. nas palavras que não dizem nada mas que fica bem dizer.
segundo a minha amiga, o afastamento daqueles de quem esperava proximidade não doeu um terço em comparação com a proximidade daqueles que procuravam o detalhe sórdido da situação.
o ser humano é macabro.