Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
anda a polémica no ar por causa das escolhas da sic e tvi dos programas da noite de domingo.
que é um atentado às conquistas das mulheres, que se tratam as mulheres como gado, que as tvs deviam ter vergonha, etc e tal.
mais do mesmo: blá. blá. blá.
não me interpretem mal.
desde que engravidei que me sinto mais atenta às pressões da sociedade acerca do que é exigido às mulheres. que vejo os olhares de soslaio sempre que se percebe que a divisão de tarefas quanto ao puto é irmãmente dividida entre mim e o pai dele. que vejo o julgamento em outras mulheres sempre que dão conta de que o meu papel como mãe está no mesmo patamar que o dele como pai e as responsabilidades são exatamente as mesmas. que sinto em muita gente próxima que, supostamente, eu devia dedicar-me exclusivamente à criança e o pai ir trabalhar (porque, lá está, não fui presenteada com um pénis).
portanto, sim, nunca como hoje percebi tanto as diferenças exigidas a homens e mulheres e como estas últimas são sobrecarregadas, injustiçadas e estão numa posição muito mais merdosa do que o ser humano que nasceu com um penduricalho a mais.
posto isto, meus senhores, desculpem lá, mas não cabe à tvi e à sic educar seja quem for, sobretudo através da sua programação.
se me disserem que a rtp pode ter essa função até posso conceder um bocadinho. mas só. e só um niquinho.
no dia em que a educação da sociedade couber às televisões, desculpem lá mas, falando curto e grosso, estamos fodidos. era só o que faltava que a programação das tvs privadas fosse direcionada à educação das famílias. era quê? missa em horário nobre? o marcelo rebelo de sousa a falar de como ser um cidadão exemplar? ou o ricardo araujo pereira a explicar à plebe como se enxovalha com graça um pequeno tirano? e quem definia o quais os valores que a tv tem de transmitir? o grande comité para a educação dos meninos? a partir de que valores?
não meus senhores, não cabe à televisão a educação dos vossos filhos, irmãos, pais, avós e tios.
e mais! se há programas destes, em que as mulheres desfilam como gado perante os olhares atentos de agricultores e futuras sogras, em que se sujeitam a uma avaliação minuciosa que parece ter saído do grande livro das moças, a culpa é vossa. porque reflete um pouco da sociedade em que estamos.
são vocês (e quando digo vocês, quero dizer nós) que ensinam na maior parte das vezes esses conceitos. que ensinam (ensinamos) uma data de valores desadequados, velhos, a cheirar a naftalina às nossas crianças, mesmo que nem nos apercebamos:
- não chores, um menino não chora, queres parecer uma menina?
- não sejas mariquinhas!
- não, não lhe visto vestidos que ela é traquinas e veem-se as cuecas.
- claro que não vais sair assim vestida de casa, pareces uma mulher da vida.
- como é que queres namorar se nem sabes fritar um ovo?
- já viste esse cabelo? assim não há homem que te pegue.
- o quê? andas aqui? então e o miudo está com quem?
e por aí adiante, em constante movimento.
tenderia até a dizer que são as mulheres que mais proliferam o machismo evidente apesar de não ter dados estatísticos para confirmar esta afirmação. mas posso falar do que vejo, do que leio, do que escuto. e o que observo são as mulheres em constante luta, à espera de lixar a primeira que se lhe aparecer à esquina. "espera aí que já te fodo", com os braços apontados enquanto clamam a deus e ao mundo: olha que programa hediondo!
contei o episódio abaixo no meu instagram e facebook no domingo passado (se ainda não me seguem pensem nisso, que eu ando muito mais por lá do que por aqui pela facilidade de usar o telemóvel).
e os comentários com experiências de outras pessoas foram sobretudo nessa linha: somos umas cabras umas para as outras. temos a maior tendência para nos lixarmos, acusarmos, julgarmos e por aí adiante acabando, no fim, por gritar muito alto que a culpa é da tvi e da sic, que deviam ter vergonha nos programas que passam.
não minhas senhoras, vergonha devíamos ter nós! vergonha devíamos ter nós por todas as vezes que achamos que era suposto a vizinha estar um nadita mais abaixo que nós.
tenho ao máximo tentado lutar contra isso. juro. vou conseguindo cada dia um bocadinho mais.
e não é por dar uma olhadela ao programa dos agricultores e das sogras que isso altera.
a alterar é só para me lembrar de nunca, jamais, educar o meu filho para que se comporte, pense ou sinta daquela forma.